quarta-feira, 28 de março de 2012

Vida aos pares - com Gabito Nunes


Relacionamento não é pra qualquer um.
Nelson Mandela ficou preso 27 anos, sofreu torturas e trabalhou em regime de escravidão e segurou firme, mas não aguentou o casamento.
A arte meticulosa da vida à dois não é nem de perto uma ciência exata e ainda é guiada por palpites e pitacos dos "conhecedores do assunto", que geralmen
te são pessoas que não conseguem viver junto nem do animal de estimação, quem dirá de outra pessoa.
Nesse mar de incertezas e confusões o escritor gaúcho Gabito Nunes consegue ter uma visão bastante lúcida e sombriamente bem humorada, expressas nos seus textos e livros.
Seus trabalhos trazem um ponto de vista pessoal e ao mesmo tempo compartilhavél dessa mania humana de querer viver aos pares. Quem é Gabito Nunes no meio disso tudo?

Eu estou na maioria dos meus textos, nunca chamando atenção, mais ou menos como um espião atrás de alguma árvore. Mesmo meu trabalho não sendo oficialmente autobiográfico, eu escrevo a partir de experiências vistas pelos meus olhos. Está tudo ali, a devoção pela música e a cultura pop, minhas leituras, meus relacionamentos, minhas sensações de confusão, êxtase e fracasso. Não sei se sou mais alguma coisa além disso, se minha realidade é ficcional ou se minha ficção é real. No mais, como disse o Cazuza, eu sou mais um cara.

Na busca por felicidade, as pessoas acabam ignorando oque tem nas maõs em troca de perseguir um ideal que muitas vezes só é visto na ficção. A busca por uma satisfação utópica acaba sendo motivo de tropeços nos relacionamentos atuais?

Eu não sei, honestamente. Cada cabeça é uma sentença. Talvez o errado seja negar aquilo que a gente acha certo, por alguma razão, pressão comunitária talvez. Já conheci mulheres que apanhavam de seus namorados/maridos e outras com relacionamentos abertíssimos que ainda assim não se dizem infelizes. Quem sou eu para discodar? Dona Flor só foi feliz com seus dois maridos.

Relacionamento perfeito existe?

Acho que não. Se existiu algum, morreu de tédio. Mas as pessoas gostam de acreditar que sim. Salvem-se quem e como puderem. Mas as pessoas estão aprendendo a amar os defeitos de cada um. Tudo, qualidades e defeitos, fazem parte de uma caracterização. E talvez esse conjunto de falhas e habilidades sejam subjetivamente perfeitas na sua engrenagem, para determinadas pessoas.

Alguns casais gostam de brincar de gato e rato, no sentido destrutivo, e alguns dos relacionamentos mais intensos são regados por conflitos e desentendimentos. É preciso sofrer, para poder aproveitar o amor?

Não necessariamente. A gente amadurece com o tempo. Hoje eu tenho 30 e sei como é ter 20. As coisas mudam, a gente muda e não controla isso. No entanto, por preceito, eu acho que os humanos nasceram pra sofrer. O sofrimento é a condição humana principal. Particularmente, eu não acredito em felicidade plena, em nenhum campo vital. Mas eu acredito em pessoas que fingem o tempo todo.

Homens falando sobre relacionamento nem sempre são as fontes mais confiáveis, mas para ter uma visão mais ampla da situação Gabito muitas vezes se insere na história com um "Eu" feminino, se colocando no papel da mulher e falando como se fosse uma delas.

Hoje em dia, eu penso que as pessoas gostam de ser envolvidas, carregadas pelo texto. Querem ouvir suas histórias. Creio que minhas vozes, tanto masculina ou feminina, espelham um pouco nosso tempo, e os leitores acabam se encaixando aqui e ali, eventualmente. Algumas pessoas chamam isso de populismo e eu não acho isso ruim. Quando eu era adolescente, a gente conversava mais, protagonizava alguns diálogos interessantes. As pessoas andam mais fechadas e receosas, talvez por isso eu tente escrever o que meus amigos têm preguiça de dizer. Funciona assim, às vezes. E como tenho muitas amigas mulheres, acabo tendo essas ideias. Ademais, eu gosto da companhia desse "eu" feminino. Na minha cabeça, "ela" é gata pra caramba.

E para os que vivem à imaginar o dia que entender a cabeça das mulheres ou conseguir explicar o porque desses amores avassaladores vai lhe render livros dignos de um prêmio Pulitzer ou um blog conceituadíssimo. O autor e blogueiro premiado sugeriu que todos nós se reunissimos em um quarto escuro, bem quietos ao som de - O Teatro dos Vampiros - do Legião Urbana, para dividir um segredo...

Não conte pra minha mãe mas ... eu não tenho renda fixa.


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Conheça mais sobre o Gabito Nunes em:
www.gabitonunes.com.br

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